sexta-feira, 23 de setembro de 2016

I wonder what it's all about


Foram duas semanas, duas pistas...

E a frase acima, de uma música do Coldplay, resume o pensamento / questionamento que ainda não sai da cabeça...

























e, por fim...



quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Spa e Monza, aí vamos nós!

Dias como este 4 de Agosto já aconteceram outras vezes, confesso. Posso afirmar que, felizmente, o que vem pela frente não será algo inédito.

Em dias como o de hoje eu me forço a lembrar de quando eu era “menino pequeno” e ficava vendo as imagens aéreas dos circuitos de Fórmula 1 na TV, sempre tentando reparar nos “cantos” da imagem, no chamado entorno dos autódromos, sempre tentando identificar portões de acesso, sempre imaginando o que eu teria que fazer para encontrar supostas entradas se um dia eu estivesse naqueles cenários de sonho. Sempre enxerguei a Europa e seus traçados como algo inalcançável, algo difícil de pôr os pés um dia. É o que pensa cada pessoa, digamos, "normal" quando se liga a TV num domingo de corrida da maior categoria de todas.

Ver uma corrida de Fórmula 1 ao vivo, fosse em São Paulo ou no Rio de Janeiro, sempre me pareceu um feito difícil, mas plenamente possível. Tão possível que acabou por se tornar algo que desde 1998 já faz parte da minha vida.

Mas assistir a uma corrida de Fórmula 1 na Europa sempre foi um sonho daqueles que você tem, mas que sabe que beira o impossível.

Só que as voltas acontecem e às vezes o impossível se torna possível.

Hoje tive a certeza de que o sonho vai se tornar novamente real, embora não tenha deixado nunca de ser um sonho. A melhor coisa que pode acontecer ao conseguir se realizar um sonho é ter a certeza de que ele continua sendo um sonho.

A partir de 24 de Agosto, uma viagem para pisar em terrenos que sempre pareceram cenários de ficção. Até hoje ainda parecem...

Spa-Francorchamps, Bélgica... Monza, Itália.

Dias como o de hoje são o ponto de partida para semanas que podem ser chamadas de tudo, menos de “corriqueiras”. A partir de agora, dorme-se pensando nisso, acorda-se pensando nisso e passam-se os dias a pensar sobre isso, imaginando-se os detalhes a acertar, pensando em cuidar de tudo para que, quando estiver sozinho “lá longe” nada de imprevisível aconteça. Por essa tensão, por essa expectativa, por essa adrenalina – adrenalina que vicia (não tenha dúvida disso, leitor), por tudo isso, dias como o de hoje garantem que os que virão sejam diferentes, mas diferentes de um modo tão positivo que você, depois que tudo passar, sentirá falta até mesmo da sensação que reforça aquela frase que diz que “o melhor da festa é esperar por ela”.

Ok, não será a primeira vez...  Mas mesmo que não seja, ainda acho que a sorte que tenho (não só ter a oportunidade de ir até lá, mas também poder voltar lá) se materializa quando não deixo que o sentimento e a emoção que envolvem essas jornadas se tornem algo comum. A sensação, por incrível que possa parecer, ainda é de novidade. Uma novidade que não é nova, mas que parece com a da primeira vez.

Certa vez vi na TV um jornalista que há décadas faz cobertura de GPs dizer que ainda sente adrenalina quando vai para a pista, ou quando escuta o primeiro motor roncar alto (quando o citado jornalista fez essa afirmação, os motores ainda roncavam alto).

Lembro que duvidei do que dizia o profissional... “Como pode jornalista tão experiente sentir o mesmo frio na barriga – palavras do mesmo – que sentem os iniciantes que pisam num autódromo pela primeira vez?”, pensei.

Eu estava errado.

Ir para uma pista ver uma corrida de Fórmula 1 nunca será algo corriqueiro. Pelo menos não para alguns....

Ir para uma pista de Fórmula 1, depois de passar toda uma infância sonhando, e se achando tão distante daquilo, é algo que vale cada centavo, cada sacrifício. Não é como no comercial de cartões que diz “não tem preço”.

Sim, tem um preço. Mas como tudo que se compra, deve-se refletir sobre o que se ganha ser mais valioso do que aquilo que é cobrado.

E quando você viaja para ver uma corrida lá fora, quando você pisa dentro daquele universo tão distante ou quando o primeiro carro cruza o asfalto a sua frente, você ganha algo que ficará com você para sempre. Ninguém poderá lhe roubar, ninguém poderá lhe tirar.

O que se ganha ao pisar em Spa ou em Monza são coisas que não vou nem tentar a aventura de converter em palavras. A única coisa que posso afirmar com a convicção de não errar é: ganhe o que for, sinta-se o que for, será algo que um fã de corridas guardará com ele para o resto da vida.

Perguntam-me sempre: Vale o sacrifício?

De fato, uma imagem vale mais que mil palavras...




terça-feira, 2 de agosto de 2016

Hamilton X Rosberg: o talento de um acaba onde começa o talento de outro

"Rosberg é perfeitamente capaz de derrotar Hamilton em uma prova. Mas vencer um campeonato mundial envolve outras qualidades"



O mundo soube no fim de semana do GP da Hungria, uma semana antes da vitória de Lewis Hamilton em Hockeimheim que o piloto inglês e Nico Rosberg terão a oportunidade de duelar pela Mercedes até o fim de 2018. A notícia pode ser considerada boa, porque já se criou em torno dessa rivalidade uma expectativa que aumenta o interesse de todos pelas corridas, pelos bastidores da equipe e, principalmente, pelas disputas travadas pelos 2 dentro da pista.

Mas até que ponto vai o equilíbrio na briga entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg? Sim, estamos vendo um campeonato disputado no estilo “cabeça a cabeça”... Mas o quanto 2016 reflete a realidade? Quais as chances de 2017 e 2018 repetirem uma briga pelo título tão equilibrada?

Vamos tentar avaliar juntos a resposta para essa pergunta, sendo que o leitor mais atento poderá lembrar que, se em 2016 a disputa pelo título deve ir até o final do campeonato, em 2014 também foi assim. Já a temporada 2015 foi vencida por Hamilton com ampla antecedência.

Insiro nesta discussão um detalhe para o leitor refletir: durante todo o ano de 2014 e em boa parte de 2015, apenas Hamilton tinha executado ultrapassagens em cima de Rosberg. Este é o ponto que creio ser o mais interessante na análise do belo duelo que existe na Mercedes: o confronto direto, ou a disputa direta dentro da pista.

Nico Rosberg é um piloto com muitos méritos. Sem dúvida é um caso de competidor que soube evoluir, que elevou seu nível de pilotagem ao enfrentar companheiros de grande calibre. E esse talvez seja o maior mérito de Rosberg na briga contra Hamilton: conseguir fazer frente ao seu rival, conseguir bater de frente com um piloto claramente mais talentoso. Barrichello, Massa, Fisichella e Irvine foram alguns que sucumbiram e pouquíssimas vezes incomodaram seus rivais diretos.

Rosberg não. Rosberg de fato incomoda Hamilton. Já mostrou que sabe aproveitar chances e tirar proveito do super carro que pilota (o que Mark Webber, por exemplo, não conseguiu na maioria das oportunidades que teve). Nico é mais valioso do que todos estes citados acima. É um piloto que dentro da pista - como na Áustria, por exemplo - já mostrou postura, mostrou personalidade (infelizmente o universo das assessorias de imprensa que perpetuam a cultura da boa imagem o impedem de fazer o mesmo fora dela).

Mas sua batalha não é fácil... Por maiores que sejam seus méritos, o alemão definitivamente não está enfrentando um adversário qualquer. Ele luta contra um piloto magnífico, um tricampeão do mundo capaz de encarar qualquer adversário, e que desde as categorias de base já deu incontáveis demonstrações de técnica e arrojo, sem falar na velocidade que até para possíveis detratores é difícil contestar.

Voltamos, portanto, à questão do confronto direto, ou seja, às corridas em que os dois se enfrentam sem problemas mecânicos ou eventuais intempéries.

Quantas vezes já vimos Rosberg dominar os treinos do fim de semana e na volta final do Q3, aquela que decide a classificação no sábado, Lewis Hamilton conquistar a pole em uma única tentativa (coisa que, justiça seja feita, Rosberg fez na Alemanha)? Quantas ultrapassagens Rosberg já executou sobre Hamilton e vice-versa nestes 3 anos de Mercedes?

Lewis Hamilton tem a seu favor algo que, ao menos por enquanto, ainda é fundamental e faz a diferença na Fórmula 1: o talento nato. Para derrotar Rosberg, o esforço que Lewis que precisa fazer – não há dúvidas que ele de fato tem que se esforçar – é menor do que aquele que Rosberg precisa fazer para derrotá-lo.

O piloto do carro número 6 andou muito no começo do ano. Atuações irretocáveis, eu diria (em relação às corridas finais de 2015, posso estar errado mas não enxergo as disputas pós-decisão do título como sendo iguais às provas em que a taça ainda estava em aberto). Mas os problemas de Lewis Hamilton no início de 2016 foram claramente o que chamo de "fatores externos" – muitos deles, mecânicos. E mesmo com as 4 vitórias iniciais de Rosberg, o líder do mundial já é Lewis Hamilton.



Atentemos para dois dados que fui buscar e que ajudam a ilustrar a linha de pensamento deste post: nas corridas em que largaram juntos na 1ª fila (excluindo portanto os GPs com punições de grid ou problemas que algum deles tenha enfrentado no sábado e reforçando portanto a questão do confronto direto) Lewis Hamilton venceu Rosberg em 20 ocasiões, contra 12 vitórias do alemão.

Outro dado que creio ser interessante: contando também apenas corridas em que ambos “fecharam” a 1ª fila, quantas vezes o piloto que largou em 2º levou vantagem e venceu, “revertendo” a pole do rival? A supremacia é novamente de Hamilton: 9 vezes ele bateu Nico partindo da 2ª posição, contra 5 ocasiões em que Rosberg perdeu no sábado mas venceu no domingo.

Mesmo com essa opinião, não creio (pelo menos por enquanto) que o Mundial de Fórmula 1 já esteja decidido. Rosberg tem de fato demonstrado a enorme capacidade de, no mínimo, saber lutar. Mas creio que a longo prazo ele ainda depende de situações adversas do rival para ser campeão. Situações que podem e devem ocorrer (Lewis Hamilton fatalmente perderá 10 posições no grid em um GP, pois restam 9 corridas e ele já “esgotou” o limite de substituição de algumas partes de seu motor. Lewis também possui duas advertências da direção de prova, e em caso de uma terceira também perderá 10 posições). Em resumo: Nico é perfeitamente capaz de derrotar Hamilton em uma prova, mas vencer um campeonato é outro cenário.


Mas todo esse texto envolve, na sua essência, algo positivo: a rivalidade e as disputas em pista entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton podem sim marcar a década e entrar para a história da Fórmula 1. Assim como outras rivalidades do passado, vejo como elevada a possibilidade de, em alguns anos, olharmos para trás e reconhecermos como a grande marca desta década a rivalidade entre o alemão e o inglês. O que é algo bastante saudável... Faz muito bem para a Fórmula 1 ter esse tipo de “marca” associada ao seu passado. Será certamente melhor do que simplesmente lembrar estes tempos apenas como a “Era Mercedes”.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Coluna do Leitor: Contradições (ou paralelos) na rivalidade entre companheiros de equipe

Com grande honra o quadro COLUNA DO LEITOR estreia no blog com texto do grande parceiro Marcelo Cesarino. Que seja a primeira de muitas (e de muitos)! O texto é sobre um tema que também abordarei no próximo texto.


Olá Amigos do Além da Velocidade,

Aqui começa um espaço para os leitores e fãs do automobilismo deixem seu legado neste grande mundo louco da internet. Primeiramente, gostaria de dizer que estou muito honrado por poder escrever aqui e ainda mais sendo o pioneiro. Espero não decepcionar, Mestre Fábio Campos! Sem contar que sou grato de conhecer pessoas como os “Thiagos”, Bárbara Franzin e todos aqueles que participam do podcast “Café com Velocidade”.

É muito legal saber que ainda existem pessoas que curtem muito o automobilismo, que estudam este esporte e ajudam  propagar essa nossa “febre”, ainda mais nesta fase triste e decadente que vive o esporte no Brasil, em que a grande parte das pessoas apenas se interessam quando um brasileiro vence.

Bom, vamos lá! Quando Fábio Campos me convidou para fazer este texto, pensei muito no que escrever e não chegava a uma conclusão. Pensei, inicialmente, em escrever sobre a F1 em 2016 e a fase atual da briga Rosberg e Hamilton, mas relutei, pois ao ver muitas pessoas especializadas ou que se dizem especializadas falando do assunto, o que eu poderia agregar?

Posteriormente, pensei em escrever sobre o passado da F1, aqueles que são os meus anos preferidos: o final dos anos 70, anos 80 e o princípio dos anos 90. Entretanto, sei que muita gente não gosta desse “nostalgismo” e muitos outros - mais novos - não viveram estes tempos e por isso não possuem conhecimento do que essa época representou a F1.

Nesta dúvida atroz, resolvi fazer um paralelo da disputa atual entre Hamilton X Rosberg e a disputa Prost x Senna no final dos anos 80, tentando tirar as diferenças e semelhanças da situação, embora eu acredite que não haja tantas semelhanças assim.

Como semelhança principal temos, neste momento, dois pilotos empenhados em buscar o título de campeão do mundo, sendo que um é “multi-campeão” e o outro não é campeão e sofre uma grande pressão pessoal e da imprensa para se tornar um, assim como aconteceu em 1988. Outra semelhança com 88 é que um dos pilotos é extremamente talentoso, arrojado e que gosta de correr riscos. O outro é mais técnico, calmo e extremamente prudente dentro e fora das pistas. Ambos dentro de uma equipe que por hora, permite a “contra gosto” que seus pilotos disputem o título.

As semelhanças param por aí. O restante é tudo muito diferente de 1988, começando pelo contexto e filosofia da época. Não existia essa política tão pesada, e por que não dizer tão desgraçada, das tais “ordens de equipe”. Política essa, que foi abraçada e idolatrada pela Ferrari, principalmente na “Era Schumacher”, e que tão mal fizeram à Fórmula 1. Disputa entre companheiros de equipe na pista era algo normal e era impensável que engenheiros e chefes de equipes estipulassem, a todo o momento, que o piloto número 1 deve ficar sempre à frente do número 2.


Saindo da política e entrando na capacidade de cada piloto, chegamos o coração da questão. Prost e Senna, a despeito dos números, foram (ou são) pilotos melhores que Hamilton e Rosberg. Os dois, em 1988, eram mais maduros e completos do que Hamilton e Rosberg são hoje. E algo mais grave, a diferença técnica (ou capacidade!) entre Hamilton e Rosberg é muito maior que a diferença entre Senna e Prost, pois estes dois últimos praticamente se equiparavam. Rosberg, que recebe constantes críticas minhas, é um piloto limitado, pouco arrojado e que tem muitas dificuldades em superar situações adversas, vide seu desempenho em corridas com chuva, por exemplo. Ainda para piorar, Rosberg não usufrui de plena confiança da cúpula da Mercedes, que já o viu “falhar” algumas vezes na hora decisiva. Por isso teve que sofrer até para renovar o seu contrato com a equipe, vendo o fantasma de Pascal Werhlein crescer dentro do time alemão.

Sabidamente Hamilton é mais piloto que Rosberg e é o favorito a ser campeão em 2016, mas isso significa que necessariamente ele deve ser o campeão deste ano? Não.

Se Rosberg conseguisse manter o ótimo ritmo e força mental que teve no início do ano contra “os excessos e imprudências” de Hamilton, mereceria ser campeão. Entretanto, o momento do campeonato é diferente, e Hamilton tem sido sistematicamente mais rápido nos últimos GPs. Até por isso, nem critiquei muito Nico por sua manobra contra Hamilton na Áustria. Depois de fazer a sua melhor corrida na F1 até a última volta, ele não podia ser ultrapassado por fora na única chance que Lewis tinha. Embora fosse um prejuízo de pontuação menor, seria uma “amarelada” muito grande e Rosberg precisa mostrar que tem condições de ser campeão.

Bom, acho que alonguei demais. Finalizando, o mais importante: acima de qualquer discussão, é que tenhamos um restante de campeonato muito disputado dentro da pista entre os dois postulantes ao título e acima disso, que o campeonato não seja decido em “rádios” durante as corridas ou em reuniões fechadas dos cartolas da Mercedes. Que vença o mais merecedor


Abraços a todos and keep yourself alive!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Jornalismo e Imprensa: A cobertura da Fórmula 1 apegada a discussões menores e longe da questão principal

"Não se contentar com pouco é uma virtude, é quase um mandamento para quem exerce o jornalismo, seja ele esportivo ou não"



A seção 'Jornalismo e Imprensa' estreia neste espaço, e confesso que já chega como uma das minhas preferidas... Afinal, como jornalista é difícil ficar avesso aos caminhos e filosofias adotados por veículos de comunicação em torno do esporte, mais especificamente do automobilismo.

São vários os temas discutidos em torno da Fórmula 1 neste período entre os GPs da Hungria e Alemanha – alguns deles já se estendem por semanas. Há na cobertura feita por televisões e sites (ao menos aqueles que valem a pena serem lidos) um enfoque a determinados assuntos que acabam por ganhar uma repercussão que outros tópicos, mais relevantes, não conquistam. Alguns temas podem até ser ligeiramente mais interessantes ou importantes para o futuro da Fórmula 1 do que outros.

Mas me chama a atenção a ausência nas coberturas das perguntas que realmente importam....

Hoje, os principais focos que a imprensa especializada repercute giram em torno dos limites da pista, das conversas de rádio entre boxe e piloto e da redução suficiente ou não de velocidade de um carro em trecho de bandeira amarela. Alguns desses temas já nos propusemos a discutir, como a questão que envolve o rádioembora o foco da discussão esteja a meu ver equivocado por parte da mídia em geral.

Em outras questões, a pauta é alimentada pela falta de critério nas regras e aplicações das mesmas - por exemplo, basta que existam zebras que evitem que o carro ganhe velocidade fora da pista para o problema dos "track limits" encerrar-se definitivamente.

Mas já que muitos se encontram com o espírito questionador (o que é sempre algo positivo, diga-se), já que a imprensa tem sido tão insistente em alguns aspectos, por que não focar na discussão que deveria ser a mais construtiva, e certamente a mais valiosa para o futuro da Fórmula 1: como deixar as corridas melhores? Não seria esse um tema muito mais importante, muito mais relevante para o público e digno de se empunhar o microfone diante daqueles que respondem pela categoria?



A temporada de 2016 pode não estar sendo a pior dos últimos anos. Certamente temos visto alguns fatos muito interessantes nas 11 corridas disputadas até aqui esse ano. Mas tratam-se exatamente disso: fatos isolados.

Pergunte a si mesmo, leitor, o que mais lhe agrada mais nesse campeonato da Fórmula 1 até aqui? (Recomento que não apenas se pergunte, mas compartilhe as respostas no campo de comentários do post).

A disputa na Mercedes tem momentos realmente eletrizantes... O fenomenal Max Verstappen é certamente um grande atrativo para todos... Os pneus de fato trouxeram uma certa movimentação às provas, principalmente no início do campeonato.

Mas estamos vendo boas corridas, de fato? A Fórmula 1 está atraente, como esporte, durante os 300 km percorridos a cada domingo?

Podem existir aqueles que acham que sim. Mas uma análise crítica do ponto de vista de quem espera sempre por ultrapassagens, demonstrações de alta técnica e grandes atuações, concluirá que a Fórmula 1 ainda está devendo. Na minha visão, este ano está sendo superior a 2015 em termos de qualidade. Mas ainda longe do espetáculo que aquele que liga a TV ou vai para as arquibancadas merece. E entre o questionar e o contentar-se com pouco, eu escolho a primeira opção.

A maioria das corridas recentes foram provas insossas. Sim, com alguns lances dignos de um campeonato de Fórmula 1, como a disputa na Áustria (que, lembremos, salvou um GP morno, mas quem dera todo GP morno tivesse uma “salvação” como aquela), ou a disputa entre Verstappen e Rosberg em Silverstone, ou a largada na Hungria (com a manobra magnífica de Rosberg sobre Ricciardo na curva 2)...

Mas ainda é pouco...

E por isso a imprensa (sobretudo aquela que acompanha e está próxima da categoria a cada fim de semana) deveria estar preocupada com este "tema maior", e incluindo em sua pauta assuntos que certamente renderiam discussões mais proveitosas, por exemplo...

Como tornar o campeonato mais equilibrado entre escuderias? Como fazer para que em 2017 tenhamos mais ultrapassagens na pista? O que mudar nos carros para que seus materiais não sejam tão sensíveis e os façam perder rendimento quando se encontram atrás de outro monoposto? Como mudar os aspectos financeiros e comerciais para atrair mais equipes para se juntar ao circo, e com isso não passar pela sensação de “alívio” quando um time em iminente falência é comprado por um investidor? Enfim, como fazer para proporcionar um maior número de corridas espetaculares, que acontecem com pouca frequência nos últimos anos?

Não se contentar com pouco é uma qualidade que admiro em cada pessoa em que percebo essa característica. É uma virtude, e que deveria ser um mandamento para quem cobre não apenas esporte, mas qualquer editoria de um jornal. Editores e diretorias de TVs, jornais e sites que cobrem o automobilismo deveriam perceber que mesmo que se chegue à conclusão de como devem ser respeitadas as bandeiras amarelas, mesmo esclarecendo quais são de fato os limites das curvas na pista e mesmo proibindo (ou liberando) o rádio entre pilotos e equipes, o caminho a percorrer para melhorar a Fórmula 1 ainda é muito longo.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

'Pra pensar na pista': Track limits

Se todos os pilotos excedem os limites da pista em uma mesma curva, quem está levando vantagem? 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O rádio não é o problema: ele apenas ajuda a colocá-lo em prática

"A questão é que pilotar um carro de Fórmula 1 hoje deixou de ser algo que exige puramente habilidade, controle da máquina, braço ou arrojo. Guiar um carro de Fórmula 1 hoje envolve conhecimentos matemáticos, exige que os pilotos sejam quase analistas de sistemas"



A discussão sobre o rádio segue com desdobramentos e novas notícias a respeito de punições, mais rigor nas regras, e outras repercussões. Portanto não há momento melhor para continuar a discussão sobre o rádio iniciada em post anterior.

Na minha visão, toda a questão do rádio tem um fundo muito mais importante a ser analisado e debatido.

Não tivesse o carro de Fórmula 1 se transformado num supercomputador sobre rodas, com o volante carregando muito mais do que uma marcha, um painel e um número aceitável de funções – como a liberação da mangueira de água, o limitador de velocidade nos boxes, entre outras que podem e devem existir para o piloto controlar – toda a discussão sobre o rádio perderia em importância.

A oportunidade que está se desperdiçando é a de discutir por que o rádio chegou ao ponto de ser prejudicial e usado como “auxílio na pilotagem” dos carros.

O problema não é o piloto se comunicar com sua equipe, ou vice-versa. O problema é que pilotar um carro de Fórmula 1 hoje deixou de ser algo que exige puramente habilidade, controle da máquina, arrojo, coragem. Guiar um carro de Fórmula 1 hoje envolve conhecimentos matemáticos, exige que os pilotos sejam quase analistas de sistemas.

Essa é a oportunidade que a Fórmula 1 perde, ou melhor, que aqueles que estão envolvidos no ambiente das corridas – imprensa, principalmente – perdem ao não levantarem a simples questão: por que o radio é tão importante atualmente?

Hoje em dia o piloto tem no carro uma série de sistemas, uma quantidade gigantesca de combinações e configurações para controlar. Analise com calma, leitor, a foto abaixo. Veja a quantidade não só de botões, mas principalmente de posições (ou opções de posição) que o volante apresenta. Repare na imagem e se pergunte se não foi ultrapassado o limite entre manusear o que parece ser um painel de avião e concentrar-se na pista – que por si só já oferece elementos suficientes que o piloto precisa estar atento, pois seu desempenho e até sua segurança dependem disso.




Mesmo que seja impossível saber a resposta, quantos pilotos já não perderam o controle carro, ou escaparam da pista, ou não viram uma bandeira amarela e tiveram fortes acidentes por estarem mais atentos ao que exige a peça na imagem acima?

Você leitor já parou para pensar que uma corrida pode ser decidida por uma combinação de ajuste no volante? No GP da Europa vimos um piloto da Mercedes perder desempenho por não conseguir achar as combinações corretas. O próprio diretor da equipe alemã afirmou depois da prova: “Nico Rosberg se deu melhor porque encontrou mais rápido do que Lewis Hamilton a solução que o carro precisava”.

Pense você, leitor: se ainda não chegou o dia, o quão longe estamos de ter não só uma corrida, mas um campeonato decidido e conquistado por pilotos cuja principal característica seja lidar melhor com sistemas e configurações de mapeamento do volante?

Entendo perfeitamente a influência da tecnologia neste esporte. Não há como negar o peso que o carro tem nas conquistas de um piloto. Até aí, ainda é automobilismo. Mas daqui deste cantinho, e podem me definir como quiserem, eu me recuso a aceitar que algum dia, mais importante do que saber disputar uma freada, saber dosar o carro numa saída de curva, mais importante do que simplesmente guiar, a Fórmula 1 se torne um lugar onde o fundamental seja ajustar o menu para 43L, 38P-X ou Yellow G-4.

Se nada for feito neste momento, a Formula 1 caminha para ser um esporte em que um piloto pode vencer seu companheiro de equipe (considerando portanto aqueles com equipamentos iguais) não pelo braço, não pela técnica que aprendeu no kart, não pela pilotagem, mas por saber lidar melhor com computadores.

Eliminar o radio pura e simplesmente não é a resposta para deixar a Formula 1 mais “à mão” dos pilotos. Hoje, tirar o rádio fará apenas com que o piloto tenha de passar por inúmeras reuniões e sentar no carro com a responsabilidade de, entre tantos outros desafios (muito mais interessantes ao fã de corridas, acredito), ter que saber interpretar e assumir o controle de 600 ajustes – sim, este é o número de opções que alguns pilotos já afirmaram existir no volante.

Muitos confundem a necessidade do rádio ser justificada pelo avanço da tecnologia. Trata-se de um erro, a meu ver. A Fórmula 1 não ficará menos tecnológica se permitir ao piloto conduzir, pelos seus méritos, uma máquina que ainda será a mais avançada de todas. A tecnologia na F1 evolui 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano nas fábricas, e assim continuará a ser. Mas no domingo, ao apagar das luzes vermelhas, ela deve ser “entregue” aos pilotos para que eles façam uso de seus equipamentos sem que isso anule suas habilidades como os mais rápidos condutores de carros do mundo.

É claro que a Fórmula 1 sempre exigiu não apenas técnica e braço ao volante, mas também a capacidade de acerto de um monoposto. Mas uma coisa é ajustar o equipamento pedindo mais ou menos asa na dianteira, mexendo na configuração de suspensão ou discutindo mais refrigeração ou não dos freios. Outra coisa bastante diferente é passar uma corrida tendo que ajustar 600 configurações possíveis sentado num supercomputador sobre rodas.


Não tenho nada contra o supercomputador sobre rodas. Mas ele, avançadíssimo que seja, deve ser conduzido por pilotos, sejam eles bons ou ruins. E não ser gerenciado a ponto de se sobrepor a uma das mais belas amostras que o automobilismo nos oferece a cada fim de semana, infelizmente hoje esquecida por muitos torcedores: a arte de pilotar um carro de corridas.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O que a Fórmula 1 não percebe – ou não quer perceber – em torno das comunicações via rádio entre pilotos e equipes

O que envolveu a punição de Rosberg no último GP em Silverstone é apenas um detalhe perto do tamanho que a influência do rádio tem hoje nas corridas de Fórmula 1




Enfim, “explodiu” na Fórmula 1 uma punição por comunicação indevida através do rádio entre um piloto e seus engenheiros nos boxes.

Não estou entre os que acreditam que a punição – justa ou não – vem a comprovar a eficácia da regra. Não me insiro no grupo dos que pensam que o monitoramento feito hoje é algo eficaz, e que apenas por isso essa regra teria alguma razão de existir.

O que aconteceu em Silverstone foi o lado extremo da regra. Um piloto com problemas no seu carro que precisava da instrução para não abandonar ou não perder inúmeras posições na pista. Não foi uma assistência de direção no sentido de melhorar a performance, e sim uma correção de defeito. Nico Rosberg foi punido porque ficou escancarada para o mundo a mensagem dizendo claramente o que ele deveria fazer. Se a regra impede que isso seja feito, é certo que se puna.

O problema é que a regra não consegue atingir o seu sentido literal. É uma proibição quase ilusória e que pode ser – e já está sendo – contornada usando artimanhas e esperteza no uso do rádio.

Imagine você, leitor, as inúmeras vezes em que os engenheiros e “cientistas” da Fórmula 1 encontraram modos técnicos (utilizados diretamente nos carros) de burlar o regulamento.... Uma mangueira de combustível sem filtro, que abastece de forma mais rápida... Uma asa que flexiona sob a força do ar nas retas, um pneu com banda de rodagem que aumenta quando a borracha está mais quente, ampliando o contato da mesma com o solo.

Se o regulamento já foi burlado tantas vezes e à custa de altos investimentos em dinheiro (já que toda peça é previamente pensada, e algumas são projetadas especificamente para ferir a regra vigente, ou tirar vantagem de suas brechas), imagine se os engenheiros não vão criar códigos, ou maneiras sutis de – sem custo financeiro – tentar tirar alguma vantagem. Chega a ser quase lógico que, sem gastar um centavo, eles irão mais uma vez tentar se beneficiar em uma área onde é imensamente complexa a verificação do uso códigos ou onde até uma simples entonação diferente na fala pode significar para o piloto fazer um determinado ajuste no volante. Não podemos ser ingênuos a ponto de pensar que onde há uma brecha - e nesse ponto há várias - ela não será aproveitada.

Pois bem: poucos notaram ou noticiaram, mas o diretor técnico Charlie Whiting admitiu na Inglaterra que estão sendo passadas mensagens codificadas entre engenheiros e pilotos durante as corridas.

Tudo isso torna a regra atual do rádio ineficaz, quase inútil. Enquanto a comunicação boxe-carro existir, haverá uma dezena ou centena de modos de se passar uma mensagem que apenas piloto e equipe, já combinados previamente, saberão na realidade do que se trata.

No caso de Rosberg em Silverstone, foi visível e havia um problema no carro. Mas será que é sempre assim?

A única maneira de se garantir que ninguém tire vantagem de comunicação de radio é
anulá-la em sua totalidade. É proibir totalmente a conversa e transmissão de assistência entre pilotos e equipes - a não ser uma mensagem para abandonar ou algo semelhante, como um acidente à frente, algo assim.

Piloto de corrida não precisa, ou não deveria precisar de rádio para correr e ganhar um GP. O rádio não deveria ser imprescindível para que um competidor derrote seus adversários. E esse é o problema maior em torno deste tema e um dos principais a serem discutidos na Fórmula 1 atual. Mais do que a "correção de defeito" que a Mercedes fez com Rosberg, deveríamos pensar nos motivos pelos quais o carro de Fórmula 1 não pode mais ser pilotado apenas por um único ser humano.

É o que faremos no próximo post, a ser lançado aqui em breve.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Pontos a se discutir sobre o GP da Inglaterra

Em resumo, alguns tópicos sobre o Grande Prêmio da Inglaterra de Fórmula 1. Devido à ausência no podcast Café com Velocidade desse semana, vou aproveitar o espaço e falar sobre o que ainda não falei.

Durante essa semana, ainda virão colunas e análises mais aprofundadas sobre a categoria ( para saber com antecedência sobre estes e outros temas do blog, basta seguir no twitter @camposfb )

Leia e comente, pois lembro que todos os comentários neste blog são respondidos antes do post seguinte ser publicado

Vamos ao GP:

Largadas sob Safety Car - É evidente e escancarado o excesso de zelo dos diretores de prova para dar largadas hoje em dia. Pode até se discutir evitar ou não a largada estática devido à água, mas persistir dando voltas em condições já claramente melhores traz à tona um medo que é incompatível com o espírito que une pessoas em torno de uma corrida de carros.
Vou me ater a um argumento estritamente técnico neste ponto: o Safety Car está saindo da pista e os pilotos estão indo direto para os boxes colocar pneu intermediário. Aconteceu em Monaco e aconteceu em Silverstone. Ora, se o pneu de chuva existe, ele tem uma “janela” de água para ser usado, e isso está sendo claramente descartado pelos diretores de prova. A mim, parece evidente: se ao dar a bandeira verde os pilotos correm para pegar um pneu que lida com menos água, significa que eles claramente poderiam correr nas condições previas da pista, com pneus que dispersam muito mais água do que os de listras verdes.

Mercedes - A disputa entre seus pilotos é algo tão fora dos padrões para o que a Fórmula 1 se transformou que a equipe chegou a Silverstone com 8 vitórias em 9 provas e mesmo assim em clima de crise. Eu até acho que lidaram com o momento turbulento da maneira correta, seguindo mais ou menos a linha que eu abordei em post anterior: conversando com os pilotos e sem baixar proibições exageradas. Mas é impossível não perceber a real sensação dentro da equipe quando vemos membros do time dizerem que “se a situação da Áustria se repetir (pilotos com problemas de freios nas voltas finais) eles não vão autorizar o confronto”.

É triste constatar que para muitos que deveriam incentivar o espetáculo é mais conveniente que a Mercedes faça provas como em Silverstone do que provas como a da Áustria.

Lewis Hamilton : Toda vez que correr em Silverstone e cair água na pista, ele sairá de lá vencedor.

Sobre Rosberg, rádio, punição.... : O assunto é muito denso para ser resumido. Nesta semana postarei aqui no blog uma coluna a respeito de tudo que envolve estes temas.

Max Verstappen : É incrível como corre. É incrível como lida com carros de Fórmula 1 com facilidade maior do que muitos pilotos que cruzaram mais de uma década por lá e mostraram menos do que ele já fez em uma temporada e meia – sendo 3 meses em um carro competitivo. Seu inicio já me impressiona mais do que os começos meteóricos de Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. O movimento genial da Red Bull não foi nem a troca com a Toro Rosso, e sim puxá-lo da Formula 3 já identificando que ali tinha algo especial.

Red Bull : Numa Fórmula 1 cada vez mais engessada, principalmente no que diz respeito a desenvolvimento de motor, o salto que deram esse ano (sem esquecer que no começo da era turbo – primeiros testes de 2014 – mal conseguiram completar 10 voltas em toda a pré-temporada) é a prova de como são competentes. Enquanto algumas equipes saltam para a frente do pelotão sendo mais “ágeis” em mudanças de regulamento ou porque recebem um motor claramente melhor, no caso da Red Bull a palavra é única e simples: competência. Some isso a uma dupla de pilotos fascinante e fica claro a explicação do porque a Ferrari já virou a 3ª força do campeonato.

Valteri Bottas : É inegável que foi "para trás" na fila dos pilotos mais admirados do paddock. Com tantos talentos que explodiram ou vem brilhando recentemente, não acredito que tenha sequer o mesmo valor de mercado que tinha há 2 anos. É um bom piloto, sem dúvida, mas está seguindo o mesmo caminho da Williams.

Williams : Analisar a equipe sob o prisma da falta de orçamento já não constitui uma análise apurada e correta da situação. Ou mexe nas peças de seu staff técnico ou vai lentamente voltar ao patamar de antes da era turbo. Há equipe com orçamento igual ou menor fazendo um trabalho muito superior.  A operação do time não está correta, inegavelmente.

Sérgio Pérez : Analise, leitor, Russia/2015, Mônaco 2016 e esta corrida: impressiona como, além da velocidade (sem trocadilho) seus resultados são conquistados com o cérebro. Decisões certas em momentos chave das corridas fazem parte do pacote técnico deste piloto que merece uma chance em equipe melhor, embora talvez não precise disso para brilhar.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Bastidores de Silverstone, em imagens

Para quem ainda não entrou no clima do GP da Inglaterra, algumas imagens do fim de semana do GP de 2014, quando tive a honra de vivenciar o que é Silvertone.

É só clicar para aumentar as fotos.

 
Visão que resume o fim de semana

 
O melhor lugar para se ler a mensagem "Você está aqui"

O "antigo" traçado



 Sem dúvida a loja mais procurada

Você encararia?














Vandoorne e Ocon ?





quarta-feira, 6 de julho de 2016

'Pra pensar na pista': Ainda é possível jogo de equipe na Mercedes?

Estreia de uma das seções do blog, sempre com perguntas puras e simples:


Você consegue imaginar Lewis Hamilton, com o carro mais rápido, obedecendo uma ordem para não atacar Nico Rosberg em pleno GP da Inglaterra?


segunda-feira, 4 de julho de 2016

A hora de saber lidar com uma disputa pelo título que há muito tempo não era vista

Quase 3 décadas depois, dois pilotos vão decidir o título mundial em guerra declarada e batalhando no estilo “só passa se for por cima”... A não ser que seus superiores os proíbam



É um sentimento quase perdido no passado da Fórmula 1.... É verdade que nos últimos anos já assistimos pilotos brigarem pelo título até a última prova de um campeonato, vimos pilotos discutirem pela imprensa ou até mesmo na sala de espera antes do pódio. Mas a categoria máxima do automobilismo já não se lembrava do que é viver uma disputa pelo título mundial com dois pilotos dispostos a chegar “às vias de fato” dentro da pista.

E esse é o momento dentro da Mercedes. Não é mais uma “simples” disputa pelo título – se é que existe disputa simples por algum título. É uma guerra declarada. Mais do que Spa-Francorchamps 2014 ou Barcelona 2016, o que o GP da Áustria de domingo mostrou é que os dois pilotos da Mercedes estão dispostos a tudo para serem campeões do mundo. Talvez um deles já tenha mostrado isso antes... Mas o outro, se não tinha mostrado ainda, mostrou agora.

Muito além de uma disputa na pista, mais do que uma dividida de curva ou briga pela vitória, o que Rosberg fez na Áustria foi mandar uma clara mensagem ao companheiro (palavra que vai se tornando a cada dia mais inadequada dentro da realidade da Mercedes): “Se eu nunca te ultrapassei por fora, você não vai me ultrapassar por fora”. Ponto final.

O leitor que me conhece ou que se atentou ao texto de abertura deste blog na sexta-feira sabe que não haverá aqui neste espaço a torcida por acidentes ou atitudes excessivas dentro de uma corrida, mas na proposta de ir além da velocidade, pensando de forma ampla, não vejo o que está acontecendo na F1 em 2016 como algo ruim, muito pelo contrário. O sentimento de tensão para todos – espectadores, inclusive – está em nível elevadíssimo. E isso é bom, porque esporte, qualquer que seja ele, envolve disputa, rivalidade, envolve riscos e, não menos importante, envolve tensão.



Não é tarefa fácil, mas é importante para o futuro da Fórmula 1 (que vive queda de audiência, embora muitos ainda se recusem a encarar isso como um fato) que os diretores da Mercedes entendam que sim, acidentes devem ser evitados, mas que podem ocorrer disputas duras, divididas de freada rigorosamente apertadas, e trocas de posições curva após curva com os dois pilotos deixando espaço e respeitando um limite. Esse é o trabalho a ser feito "nos bastidores" agora... Hamilton e Rosberg já fizeram isso. Webber e Vettel na Malásia em 2013 chegaram a dar uma aula ao mundo.
  
Mas infelizmente a Formula 1, dominada pelos interesses das maiores construtoras de carros do planeta, chegou a um ponto em que toda essa tensão, toda essa atmosfera que está sendo vista em 2016 e que foi o grande “sabor” do GP da Áustria pode ser riscada do mapa num estalar de dedos, numa simples decisão de um diretor de empresa que passa a vida sentando num escritório e para o qual a Fórmula 1 é apenas um “setor” que se encaixa em seu caro orçamento anual. Um setor sujeito a decisões tomadas friamente, como igualmente frias são suas “metas empresariais” que só objetivam o resultado.

Mas Fórmula 1 não é ciência exata – embora o modo de operar os carros hoje em dia se aproxime disso, mas é assunto para post futuro. Fórmula 1 é corrida de carros, Fórmula 1 envolve calor humano e, como vimos no Red Bull Ring, às vezes envolve decisões tomadas em momento de alta adrenalina e mínimo tempo para se pensar.

Há maneiras de se evitar extremos na disputa entre pilotos que não passem pelo rigor da proibição daquilo que é a essência do esporte: a briga por uma vitória. É evidente que nenhum diretor de equipe quer ver seus carros batendo um com o outro -  estão certos de não querer isso. Mas neste momento entra a habilidade de um comandante, que age em beneficio de seu time sem cruzar a linha que separa a liberdade dos pilotos para demonstrar suas habilidades e a proibição que por tantas vezes já engessou outras corridas.

A última guerra aberta que a Fórmula 1 viveu, dentro de uma equipe, foi evidentemente Senna e Prost, já há quase 30 anos. Houve naquele tempo muito do que está havendo agora: choques na pista e fora dela, desgosto público de um com o outro, necessidade de intervenção de um certo Ron Dennis... E nem por isso a McLaren deixou de brilhar e nem por isso aquele fim da década de 80 deixou de estar na nossa memória como uma das disputas mais gostosas de se acompanhar em toda a Fórmula 1.


Só espero que num futuro distante possamos olhar para trás e lembrar da era “Rosberg x Hamilton” com um sentimento de “como era bom naquele tempo”, e não como "uma boa briga interrompida por quem não teve habilidade de saber lidar com dois pilotos ultra-competitivos"